segunda-feira, 8 de abril de 2024

CPAD : A carreira que nos está Proposta | Lição 02: A Escolha entre a Porta Estreita e a Porta Larga

 


TEXTO ÁUREO

“Porfiai por entrar pela porta estreita, porque eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão.”

(Lc 13.24)

VERDADE PRÁTICA

A porta estreita não é uma opção, mas a única alternativa disponível para o crente entrar no céu.

LEITURA BÍBLIA EM CLASSE
Mateus 7.13,14; 3.1-10

Mateus 7
13 – Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela;
14- E porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.

Mateus 3
1- E, naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judeia
2- e dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus.
3- Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.
4- E este João tinha a sua veste de pelos de camelo e um cinto de couro em torno de seus lombos e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre.
5- Então, ia ter com ele Jerusalém, e toda a Judéia, e toda a província adjacente ao Jordão,
6- e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados.
7- E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?
8- Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento
9- e não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.
10 – E também, agora, está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo.

PLANO DE AULA

1- INTRODUÇÃO
Nesta lição, estudaremos a analogia da “porta estreita” e da “porta larga”, mencionada pelo Senhor. Veremos que nosso Senhor teve a pretensão de mostrar aos pecadores o caminho para a salvação. Para compreendermos melhor a soteriologia de Cristo, responderemos às seguintes questões: o que significa a analogia de Jesus concernente à “porta estreita” e ao “caminho apertado”? Por que devemos escolher a porta estreita? De que maneira o pecador pode entrar pela porta que o leva para o Céu? E, por fim, aprenderemos que a consistência da vida cristã tem por base o arrependimento, a confissão de pecados e a experiência do perdão.
2- APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO
A) Objetivos da Lição:
I) Explicar
a analogia da “porta estreita” e do “caminho apertado” do ponto de vista bíblico e teológico;
II) Destacar que a decisão pela porta estreita requer uma vida de renúncia e disposição para enfrentar os desafios da caminhada cristã;
III) Apontar que a entrada pelo caminho estreito está baseada no arrependimento, confissão de pecados e novo estilo de vida.
B) Motivação: As figuras da “porta estreita” e do “caminho apertado” confrontam as pessoas que ouvem a mensagem do Evangelho. Do mesmo modo, leva os crentes à reflexão a respeito de se estão, de fato, se portanto de maneira digna a entrar na eternidade com Deus. Aproveite para conversar com seus alunos sobre o estilo de vida dos que estão aguardando ansiosamente pelo Arrebatamento da Igreja. Finalize este momento, perguntando: “Estamos, de fato, trilhando pelo caminho apertado?”
C) Sugestão de Método: O primeiro tópico desta lição aborda o conceito de porta e caminhos de acordo com a perspectiva bíblica da salvação. A analogia “caminho” aparece no Antigo Testamento, especificamente, para ilustrar a vida de renúncia ao pecado e decisão pela prática da justiça. No Novo Testamento, a figura da “porta” é aplicada de maneira mais direta pelo próprio Cristo quando se compara à porta pela qual as ovelhas podem entrar, sair e encontrar pastagem (uma situação cotidiana das regiões camponesas de Israel). Relacione no quadro as duas situações e faça um exercício de correlação bíblica, isto é, identifique o sentido de cada ilustração no contexto bíblico. Você pode consultar as informações no Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento, editado pela CPAD.
3- CONCLUSÃO DA LIÇÃO
A) Aplicação: A trajetória da vida cristã é marcada por ofertas de prazeres e deleites terrenos que são renunciados pelos crentes à medida que vivem um relacionamento estreito com Deus. O cristão comprometido com o Evangelho mantém a obediência aos preceitos da Palavra de Deus, pois sabe que a devoção verdadeira requer disposição para viver um estilo de vida que expresse, de fato, a renúncia às obras da carne e o cultivo do Fruto do Espírito.
4- SUBSÍDIO AO PROFESSOR
A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 97, p.37, você encontrará um subsídio especial para esta lição.
B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula:
1) O texto “Os dois caminhos: o largo e o estreito”, localizado depois do primeiro tópico, destaca a ideia de escolha entre dois caminhos presente no Antiga Testamento;
2) O texto “Porta”, ao final do segundo tópico, apresenta o uso frequente da palavra porta no contexto bíblico, bem como seu uso literal e figurativo.

INTRODUÇÃO

Nesta lição, estudaremos o símbolo da porta estreita e da larga, do caminho apertado e do espaçoso. Nosso propósito é pontuar algumas razões que nos mostram porque devemos escolher a porta estreita e, do ponto de vista bíblico, como entrar pelo caminho apertado. Nesse sentido, veremos que o início da nossa jornada deve levar em conta o caminho que nos conduz ao Céu.

Palavra-Chave

Porta

AUXÍLIO BÍBLICO-TEOLÓGICA

“Os dois caminhos: o largo e o estreito (Mt 7.13,14). O caminho da morte e o da vida aparecem no Antigo Testamento, na literatura intertestamental, nos escritos de Qumran e na literatura cristã primitiva […]. Na literatura de Qumran os dois caminhos são expostos como o ‘caminho da luz’ e o ‘caminho das trevas’. Jesus, de forma típica, apresenta as opções diante da audiência em paralelismo antitético: uma porta para a vida ou uma porta para a morte. A maioria das pessoas toma o caminho fácil, o qual é desastroso. A porta para a vida é difícil e restritiva; os verdadeiros discípulos são minoria. Dado o contexto de Mateus, a dificuldade da porta estreita é o caminho da justiça, na qual Jesus há pouco instruiu as pessoas” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento: Mateus-Atos. Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 61).

AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO

“Porta. Uma palavra mencionada muitas vezes na Bíblia Sagrada. Na versão KJV em inglês, é a tradução de sete palavras hebraicas e uma grega. Os dois termos hebraico frequentemente usados são: delet, referindo-se à própria porta, e petah, uma porta de entrada. A palavra ‘porta’ é utilizada tanto no sentido literal como de modo figurativo. Uso literal (por exemplo, Gn 19.6, 9; 2 Rs 9.10). As portas comuns eram feitas de madeira, mas às vezes eram feitas de espessos pedaços de pedra, tanto para casas como para tumbas. Cadeados de madeira, latão, ou ferro eram usados (Jz 3.24,25). Nas tendas as portas eram aberturas cobertas por uma aba (Gn 18.1,2). Uso figurativo. Provavelmente, o uso mais frequente de porta de modo figurativo seja como símbolo de oportunidade, especialmente para o testemunho e o serviço cristão (por exemplo, 1 Co 16.9; 2 Co 2.12; Cl 4.3; Ap 3.8). O termo porta é também usado para representar o caminho pelo qual uma pessoa entra em algum lugar. O próprio Cristo é a porta pela qual o ser humano alcança a salvação (Jo 10.9; cf. At 14.27; Os 2.15). Aquele que está próximo é considerado como ‘estando à porta’ (Mt 24.33; Tg 5.9; Ap 3.20; Gn 4.7)” (Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 1576).

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

“PORTAS DA CIDADE
No mundo antigo, as portas desempenhavam um papel crítico nas defesas de uma cidade. As portas geralmente eram o ponto mais fraco nos muros de uma cidade e, portanto, muitas vezes o ponto de ataque dos exércitos sitiantes. Para uma cidade ser forte, não bastavam muros maciços; tinha de ter portas fortes. As portas da cidade também eram o local dos tribunais judiciais, bem como o local onde os impostos eram recolhidos. Jeremias 38.7 indica que o rei realizou a corte em uma das portas de Jerusalém. Quando os profetas do AT atacam a injustiça, eles frequentemente se referem às portas da cidade como lugar de justiça (Am 5.15).” Amplie mais o seu conhecimento, lendo o Dicionário Bíblico Baker, editado pela CPAD, p.400.

CONCLUSÃO

No momento que inicia sua jornada com Cristo, o cristão deve ter a consciência de que escolheu o caminho estreito e a porta apertada para trilhar o caminho do céu. Isso significa que precisamos renunciar ao eu, nossos pensamentos e desejos, para que Cristo apareça (2 Co 5.17). Isso só é possível por meio de um verdadeiro arrependimento, confissão de pecados e a experiência do perdão.

   CPAD : A carreira que nos está Proposta – O Caminho da Salvação, Santidade e Perseverança para chegar no

| Lição 02: A Escolha entre a Porta Estreita e a Porta Larga



  O assunto envolvendo a porta estreita, à luz de Mateus 7.13, 14, faz parte do Sermão do Monte. A compreensão desse tema nos remete aos principios que foram vaticinados por Jesus Cristo aos seus seguidores para terem um viver espiritual e ético nos padrões do Deus Eterno. Esse ensino vai na contramão de tudo o que uma sociedade sem Deus adota, que ensina uma liberdade que conduz à libertinagem, que a verdade depende do conceito de cada um, que o que vale é o prazer. Nosso divino Mestre, Jesus, por meio do ensinamento da porta estreita e do caminho apertado, não é vago, mas, sim, direto, evidenciando que o seguimento para uma vida de fé requer sacrificio, compromisso (Lc 1.75).

  Um dos maiores emblemas divinos para a vida crista é a cruz, palavra que carrega três significados:

 1. Antigo instrumento de tortura e morte, formado por duas vigas, uma atravessada na outra, em que eram pregados ou amarrados os condenados. As cruzes eram de três feitios: em forma de xis, ou de tê maiúsculo, ou de sinal de somar, sendo mais longa a viga que ficava enterrada (Mc 15.30).

  2. A morte de Cristo na cruz (1 Co 1.17; Gl 6.14).

  3. Disposição de sofrer por Cristo até a morte (Mt 16.24).

  Assim, o chamado para viver a jornada com Cristo para o Céu envolve a ação de renunciar a si mesmo, os prazeres mundanos, como o tomar a cruz, que é o estar pronto a viver pelo nome de Deus e fé até enfrentar a morte, o que requer dedicação e renúncia. Jamais se pode conjecturar que a vida com Cristo seja sem sacrificio, apenas de facilidade; não é isso que a mensagem da porta estreita e do caminho apertado querem nos falar. Por outro lado, a mensagem transmitida pela porta larga e o caminho espaçoso é a de que pela nossa escolha podemos trilhar a jornada da conveniência, da prioridade dos desejos do eu, do nosso achismo, de um viver que não quer qualquer alinhamento com a Palavra de Deus, mas dominado pelo egoísmo humano. Está claro que para viver a vida cristã à luz da mensagem de Cristo é preciso crer e obedecer às Escrituras Sagradas, razão pela qual Jesus mesmo afirmou: "Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de águas viva correrão do seu ventre" (Jo 7.38). Nossa vida só pode ser bem alinhada nos valores divinos se vivermos pela Palavra de Deus, na qual constam os ensinamentos divinos.

  O homem pode tomar dois caminhos nesta vida: um que leva ao Céu, que é apertado, cujas placas de sinalização ao longo do caminho são os mandamentos e ensinos de Cristo Jesus, requerendo um viver santo, justo, ético, ações marcadas pelo amor, verdade, dessa forma se chegará ao Pai (Hb 12.14). O outro caminho é o espaçoso, é livre, sem placas de exigências, prevalecem todos os desejos de um eu não regenerado (Gl 5.19-21).

  Por meio desses dois versículos, Mateus 7.13,14, somos chamados por Cristo a refletir sobre as nossas escolhas e que tipo de decisões iremos tomar nesta vida, em que uma delas pode nos levar a uma verdadeira espiritualidade, que resultará na vida eterna, em uma comunhão verdadeira com Deus. É a escolha da porta estreita e do caminho apertado. A outra escolha, que não requer sinceridade, diligência, compromisso, poderá nos levar à perdição, que é a porta larga e o caminho espaçoso. Portanto, a decisão está diante de você se escolher o caminho certo (Jesus), terá vida (Jo 14.6); se escolher o caminho da perdição, terá a morte eterna.

 I-Portas e Caminhos

  No que diz respeito à distinção entre a porta estreita e a larga, tais ensinamentos tratam sobre as escolhas que as pessoas fazem. É importante dizer que porta e caminho expressam escolhas. Se fizermos boas escolhas, as consequências serão grandiosas, porém, o contrário disso, é que péssimas escolhas geram consequências desastrosas. As metáforas da porta e do caminho não estão tratando de julgamento, mas de consequências de escolhas erradas. Assim, por meio do ensino de Cristo, é possível fazer a distinção e refletir sobre a decisão certa que devemos tomar quanto às nossas escolhas.

  Por meio do ensino de Cristo, somos desafiados a tomar as decisões certas, que podem contribuir para o bem da nossa vida espiritual, em especial da nossa salvação. Para a vida eterna, no aspecto soteriológico, à luz do Novo Testamento, está preconizado que Jesus é a porta e o caminho (Jo 10.9).

  Em relação a Jesus sendo apresentado como o caminho, como Ele mesmo afirmou em João 14.6: "Eu Sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim". Fica claro em suas palavras que Ele não estava falando que a meta ou destino final não seria um lugar fisico, mas, sim, uma pessoa, o Pai, e que o caminho para o Pai era outra pessoa, seu Filho.

  É importante analisar três palavras destacáveis nesse versículo: caminho, verdade e vida. Pelo caminho se compreende o acesso ao Pai; pela verdade, trata-se da realidade, que envolve as promessas feitas por Deus para o bem e salvação do homem; pela vida, compreendemos que a vida divina é colocada em nós pelo novo nascimento.

 1. A porta estreita

  A primeira coisa que devemos levar em consideração é que a porta aqui representa as escolhas do ser humano, porém, pode-se falar da porta como entrada para o caminho, que simbolicamente expressa o início de uma experiência do homem com Cristo Jesus, razão pela qual os cristãos primitivos foram chamados de "Caminho" (At 9.2; 19.9,23; 22.4; 24.14-22).

   O versículo 13 começa falando sobre a porta estreita, στενς (stenés), adjetivo que quer dizer apertado. Quando se fala de ser estreito, não quer dizer que é muito dificil ser cristão, pois para isso o Pai providenciou tanto a porta como o caminho (Jo 10.9; 14.6), mas a ênfase aqui é que Jesus Cristo é o único acesso para o homem obter a salvação, visto que Ele morreu pelos pecados da humanidade. Assim, fora dEle não há como ser salvo (At 4.12), porém, é estreito porque, para se obter a vida eterna, é necessário bater de frente com as inclinações naturais.

  Por estreito, apertado, objetiva-se falar que para seguir o caminho para a vida eterna é preciso obedecer, guardar, atentar para os ensinos de Cristo. O ser humano não pode passar por essa porta com a bagagem do eu, do pecado, da vida narcisista, hedonista, mas requer um negar-se, que envolve o ato de sacrificar seus próprios interesses, desejos e opiniões, priorizando então a gloriosa vontade de Deus, um viver segundo seus princípios (Mt 7.21). Os que desejam entrar pela porta estreita precisam nascer de novo, pois irão se despir do velho eu (Gl 2.20), estando prontos para viver uma vida em total e plena obediência aos ensinos de Cristo Jesus, especialmente em poder praticar a justiça e o amor ao próximo, exercendo a misericórdia e a humildade. A máxima da lei, como bem pontuado por Cristo, está apoiada primeiramente no amor verdadeiro para com Deus, em segundo lugar, no amor ao próximo (Mt 22.37-40).

 2. O caminho apertado

  Nos ensinos de Cristo Jesus, as características do caminho apertado são faustas, que realmente só coloca em prática aquele que nasceu de novo e que deseja ir para o Céu, pois envolve a ação de amar a Deus sobre todas as coisas (Mt 22.37, salientando que Deus deve sempre ser prioridade), de perdoar os que nos ofendem (Mt 6.14,15), ser servo dos outros sempre com toda humildade (Mt 23.11-12), colocar em prática a justiça, buscando fazer aquilo que é justo, reto (Mt 5.6), carregar constantemente sua cruz (Mt 16.24), o que quer dizer que mesmo tendo que enfrentar diversos desafios e lutas por causa da fé em Cristo, o cristão precisa manter-se incólume, vivendo e batalhando pela fé que foi dada aos santos (Jd 3).

   O caminho é apertado porque não tem facilidade, os que realmente desejam a vida eterna com Deus têm que manter a perseverança, verdade, santidade, disciplina, dedicação, para com os tais que assim vivem, o Senhor jamais os abandonará, mas estará com cada um até o momento final (Mt 28.20).

  3. Porta larga e caminho espaçoso

  As metáforas da porta larga e do caminho espaçoso apresentam a vida que o ser humano vive no seu egoísmo, negligenciando a vontade de Deus e procurando estabelecer seu próprio estilo de vida. Os que vivem na porta larga e no caminho espaçoso são autoindulgentes, querem glorificação pessoal, priorizam suas vontades e desejos, isso porque não querem fazer qualquer tipo de renúncia. É a vida totalmente dominada pelo materialismo; procuram apenas viver dominado pelos bens materiais, querem conforto, riqueza, há uma ganância que domina o coração dessas pessoas. Os que priorizam a porta larga e o caminho espaçoso são individualistas e insensíveis, querem saber apenas de si, jamais dos outros, são dominados pela imoralidade, tendo comportamento totalmente fora da Palavra de Cristo, sendo promiscuos, infiéis, não atentando sob hipótese alguma para os valores do Reino de Deus.

  Na estrada que leva à perdição, porta larga e caminho espaçoso, os transeuntes vivem de modo orgulhoso, na arrogância, se acham maiores do que todos, não há qualquer sentimento de humildade, o que era algo prioritário no ensino de Jesus (Mt 11.29). Os que adotam a vida que leva à perdição não possuem qualquer reverência à Palavra, oração, fé, perdão, uma comunhão com Deus. Os que desejam viver na jornada que conduz ao Céu de glória jamais devem pensar em entrar pela porta larga e pelo caminho espaçoso, pois seus valores são contrários ao querer de Deus. É bem verdade que aparentemente pode oferecer uma vida prazerosa, marcada pela liberdade, mas tudo é ilusão. O servo do Senhor deve atentar para o conselho do salmista, de não andar segundo o conselho dos ímpios, não se deter nos seus caminhos, nem se assentar na roda dos escarnecedores, pois tudo isso perecerá (SI 1.1, 16).

  II - Por que Entrar pela Porta Estreita É Dificil?

  Entendemos que a porta estreita é a porta da renúncia, descrita em Mateus 16.24, requer autonegação, autoindulgência, desprezo ao espírito egoísta, mundanismo, imoralidade (1 Ts 4.3;1 Jo 2.15).   Envolve sacrifício pessoal, isto é, desprezo aos prazeres mundanos, o que requer um alinhamento aos ensinos de Cristo. A porta estreita aponta para o novo nascimento (Jo 3.3,5); assim, a velha natureza com seus desejos pecaminosos não podem prevalecer, de modo que é preciso despir-se dela com toda a sua bagagem (Ef 4.22; Cl 3.9).

  Os que entram pela porta estreita, além de fazer uma renúncia própria, terão que enfrentar oposições oriundas do lado de fora, as quais combaterão fortemente para levar o seguidor de Cristo a negar a fé. Essa oposição vem do mundo dominado por Satanás (2 Co 4.4), isso pelo fato de não se coadunarem com os ensinos da Bíblia, dos valores cristãos, de modo que suas ideologias e valores confrontam fortemente o que as Sagradas Escrituras ensinam. Assim, o cristão poderá ser perseguido por causa de sua fë e posição. Para resistir, o cristão precisa ser fiel, perseverando na fé em Cristo Jesus.

  Outro ataque que pode vir contra os que entram pela porta estreita é a dita contracultura. Uma sociedade que vive sem Deus, nas práticas do pecado, tendo mente e corações corruptos, jamais concordará com os valores cristãos. O apóstolo Paulo descreve muito bem como é a sociedade separada de Deus (Rm 1.18-32). Os valores cristãos e seus defensores sempre serão confrontados. Nesse sentido, diz   David Platt:

O Evangelho é a força vital do cristianismo e proporciona o fundamento para confrontar a cultura, pois, quando cremos de verdade no evangelho, começamos perceber que ele não só constrange o cristão a confrontar as questões sociais à sua

Mata compra volta, mas também cria de fato uma confrontação com a cultura ao seu redor e de dentro de nós. (PLATT, 2016, p. 17)

  Um cristão que diz que não se envolverá em assuntos que a sociedade tem como normais e que a Bíblia é contra mostra que não tem em sua vida 0 real evangelho, pois quem vive o evangelho de Cristo jamais compartilhará ou se conformará com este século (Rm 12.2). A revolta da sociedade contra o evangelho é visível; qualquer ponto que trata sobre alguma questão social já é rotulado como ofensivo.

  O evangelho é ofensivo hoje para uma sociedade sem Deus não somente por causa da questão do aborto e da homossexualidade, mas, sim, porque combate todas as práticas do pecado de um povo que opta por entrar pela porta larga e pelo caminho espaçoso. Jesus deixou claro que o mundo o odiava porque combatia suas obras pecaminosas, das trevas (Jo 3.19,20); o mesmo acontece com os que procuram falar as verdades bíblicas.

 1. Porque as oportunidades da porta larga e do caminho espaçoso são atraentes

  Ao se falar da porta larga e do caminho espaçoso, Jesus disse: "[...] muitos são os que entram por ela" (Mt 7.13). Há um poder de atração que carrega um número maior para trilhar o caminho espaçoso. Podemos numerar algumas placas que atraem seus transeuntes, vivendo a experiência da porta larga. No caminho espaçoso, pode acontecer aparentemente uma imediata gratificação, isso pelo fato de as escolhas serem livres, sem qualquer exigência, atendendo o gosto do cliente da forma que ele quer e deseja, como diz Paulo, "amigos dos prazeres" (2 Tm 3.4, ARA). Prevalece nesse caminho espaçoso a realização de todas as concupiscências da carne, as paixões mundanas.

  Na porta larga, as oportunidades são atraentes porque não há perseguição, contrariedade, oposição, ninguém é dono de ninguém, cada um é livre para viver do jeito que quer e pensa, não há críticas. Há, na verdade, uma sensação de absoluta liberdade, não há qualquer expressão que gere um sentimento de consequência, de responsabilidade. Não se pede mudança de vida nem questões éticas e morais, o que vale é seguir seus impulsos. Todo esse tipo de vida é combatido pela Palavra (1 Pe 2.11). A sociedade hodierna não somente aprecia as atrações da porta larga e do caminho espaçoso, como também aprova esse tipo de conformidade social, isso pelo fato de seus ensinos e valores corresponderem como ela mesma pensa. A mentalidade do mundo sem Deus é desprendida, livre de qualquer princípio bíblico.

   Jesus falou que é bem verdade que a porta larga e o caminho espaçoso levam uma multidão maior, porém, deixou claro que o destino final é a perdição, substantivo feminino que aponta para apoleia, ato de destruir, destruição total, deterioração, ruína, destruição, a destruição que consiste no sofrimento eterno no Inferno (Mt 7.13). É a perda do bem-estar, da felicidade. Não haverá felicidade eterna para os que seguem a porta larga, posto que viverão separados de Deus. Na verdade, todos quantos passam a entrar pela porta larga e trilhar o caminho espaçoso têm um destino triste, horrível, pois caminham para a destruição, para a aniquilação, para a perdição eterna (Dn 12.2; Mt 3.12; 18.8; 25.41,46; Mc 9.43; Lc 3.17; 2 Ts 1.9; Jd 6.7; Ap 14.9-11; 19.3; 20.10).

 2. Porque a porta estreita e o caminho apertado têm muitas exigências

  Quem deseja seguir a Jesus Cristo precisa alinhar sua vida aos seus ensinos e exigências. Crer nEle envolve voltar-se plenamente para a Palavra, sem opiniões próprias, conjecturas, achismo (Jo 7.38). Seja para o mais humilde homem, seja para o mais culto, Cristo só se apresenta como o Salvador. Foi assim que disse para o letrado e culto Paulo: "Eu sou Jesus" (At 9.5). Como bem fala Pedro, "em nenhum outro há salvação" (At 4.12).

   A porta estreita e o caminho apertado são bem restritos. Podem ser descritos, conforme já destacado, como uma passagem que fica pressionada por dois penhascos. Isso tudo aponta para a nova vida que o crente vive, certo de que ainda há no seu interior, mesmo como a implantação da nova natureza, a velha natureza, de maneira que terá que lutar contra as tentações do lado de fora e de dentro, porém, com um diferencial, a luta de dentro pode ser vencida pela presença do Espírito Santo (Gl 5.16).

  Há uma luta tamanha na vida do crente, que é entre a carne e o Espírito (Gl 5.17). Podemos dizer que é nesse particular que se diz também que o cristão deixou de trilhar o caminho dos pecadores para viver no caminho dos justos. Assim, quem passa a entrar pela porta estreita e o caminho apertado vai viver na autonegação, priorizar a santidade e a justiça, pureza moral, buscando ser como o Pai é (Mt 5.48). Envolve também a abnegação, não priorizando seus desejos e vontades, mas, sim, o querer do Senhor, abandonando o pecado de vez, reconhecendo sua pequenez, falhas, erros, iniquidades, anelando um viver pela obediência à Palavra.  

   Conforme esclareceu Jesus Cristo, a porta estreita e o caminho apertado têm muitas exigências pelo fato de que o convite para viver a vida cristă requer compromisso de uma vida espiritual transformada e genuina, segundo os padrões da vontade de Deus e seus ensinos. Há exigências para viver uma vida de santidade, posto que o cristão segue sua jornada de fé para o Céu, de modo que deve proceder em justiça e pureza moral em todos os momentos (Lc 1.75). Esse estilo de vida tem que se ajustar para ser conforme o Pai (Mt 5.48). Quem assim procede está em consonância plena com os ditames divinos de Cristo Jesus.

  Na porta estreita e no caminho apertado, exige-se que aquele que entrou por essa nova vida com Cristo expresse um amor verdadeiro para com o próximo, que é a segunda máxima do resumo da Lei e dos Profetas (Mt 22.37-40), viver em plena humildade, estando sempre pronto para servir aos outros (Mt 23.11, 12), amar e orar pelos seus inimigos (Mt 5.44), renunciar a todos os pecados e aos desejos egoístas, rendendo-se perante os ensinos de Cristo e permanecendo fiel até o fim (Mt 16.24).

  As exigências para trilhar o caminho estreito não são para dificultar a entrada do cristão no Céu, mas, sim, para torná-lo mais puro a fim de ser como Jesus é (Rm 8.29; 1 Jo 3.2) e colocá-lo em uma perfeita condição de poder caminhar plenamente com o Pai Eterno, o qual é Santo e exige santidade (1 Pe 1.15,16), a verdadeira comunhão (Hb 12.14). Portanto, a vida do cristão que caminha para o Céu deve envolver um novo nascimento, sacrificio, amor, santidade e humildade.

 III- Entrando pela Porta e pelo Caminho do Céu

  Nas palavras de Cristo, por meio do que ensinou em Mateus 7.13-14, por parte daqueles que anelam uma eternidade feliz, para se ter uma vida em comunhão gloriosa com o Pai, é preciso ter ação a atitude certa, priorizando o estilo de vida que corresponda ao querer do Senhor. À luz do Novo Testamento, evidenciam-se as condições imprescindíveis para entrar pela porta estreita e trilhar o caminho apertado. A primeira atitude a ser tomada é arrepender-se, um abandono total do pecado e um voltar- se para Deus. Esse foi o primeiro tema da mensagem do Divino Mestre, Jesus (Mt 4.17). Segue-se a isso a necessidade de ter uma vida em plena obediência aos mandamentos de Cristo (Jo 14.15), o amor a Deus sobre todas as coisas (Mt 22.39), a prioridade ao Reino de Deus (Mt 6.33), desenvolver os atos piedosos (oração, meditação na Palavra, jejum isso firma mais e mais a comunhão com Deus), jamais se amoldar ou se conformar com o mundo pecaminoso (Rm 12.2) e perseverar firme até o fim (Mt 24.13; Dn 12.13).

  1. Arrependimento de pecados

  Lamentavelmente, esse tema já não se faz presente nas mensagens de muitos pregadores da atualidade, pois estes estão priorizando a exaltação pessoal, ou preferem falar aquilo que os outros desejam ouvir. Esse tipo de situação iria acontecer no fim dos tempos, como foi dito pelo apóstolo Paulo: querem ouvir aquilo que satisfaz, que impressiona, que emociona, mas não transforma (2 Tm 4.3). O arrependimento é descrito biblicamente como aquela atitude verdadeiramente sincera em reconhecer que é um pecador e necessitar de um Salvador. É descrito também como um pesar sincero de algum ato ou omissão. O verbo grego metanoeő é uma palavra composta primeiramente temos meta, que quer dizer "depois", trazendo no seu bojo a questão de mudança; em seguida, vem поеб, "perceber", que envolve a questão da mente. Daí o surgimento de nous, mente, que se trata do lugar em que acontece a reflexão moral. Assim, arrependimento quer dizer mudar de mente ou propósito, é mudar para melhor (Lc 17.3,4). Na verdade, toda essa mudança está envolvendo o arrependimento do pecado por intermédio do poder do evangelho de Cristo na vida do pecador (Rm 1.16). Na obra Teologia Sistemática Pentecostal, o pastor Antonio Gilberto, falando sobre o arrependimento, diz:

  O verdadeiro arrependimento é o que produz convicção do pecado; contrição do pecado; confissão do pecado; abandono do pecado, e conversão do pecado. Se essas cinco reações por parte do homem não ocorrerem, não se trata de arrependimento verdadeiro, completo, mas apenas tristeza e remorso: "Porque a tristeza segundo

Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte (2 Co 7.10). (GILBERTO, 2009, p. 358)

  Arrepender-se implica a pessoa reconhecer seus próprios pecados e falhas diante de Deus e ser consciente de que depende dEle para salvação (1 Jo 1.9). Quando acontece o arrependimento na vida de uma pessoa, prontamente ela está manifestando a busca por uma vida transformada e restaurada para viver em comunhão com o Pai (1 Co 1.9). Ο arrependimento envolve a confissão de pecado, isso pelo fato de a própria pessoa os reconhecer.

  Doravante, estará pronta para abandoná-los de uma vez por todas, lembrando-se das palavras que nosso divino Mestre disse à mulher pecadora: "[...] vai-te e não peques mais" (Jo 8.11). É preciso ser consciente de que arrependimento não se trata de uma emoção aparente, um simples movimento, todavia, trata-se de uma atitude que envolve mudança de comportamento e comprometimento, e estar pronto para viver e obedecer aos ensinos de Cristo.

  O arrependimento não é um remorso, pois ele leva a pessoa a uma reflexão de seus pecados, consciente de que precisa abandoná-los, mudar de vida e compreender que só Jesus é quem pode perdoar os pecados cometidos (Mt 9.6; 1 Jo 1.9).

  O remorso se manifesta de modo intenso como sentimento de culpa, o qual pode até parar a vida de uma pessoa, levando-a diversas doenças.

 2. Confissão de pecados

  Biblicamente, o verbo confessar quer dizer declarar o que se crê ou sabe. A pessoa confessa os seus pecados (Sl 32.5) e afirma que crê no Deus Poderoso e Salvador (Rm 10.9,10). O ato de confessar os pecados faz parte do processo envolvendo o arrependimento. É afirmar e confirmar perante Deus que pecou, errou, que não cumpriu seus mandamentos e leis, não viveu conforme a sua vontade. O ato de confessar envolve uma atitude de humildade, pois revela o quanto somos falhos e fracos em nossa natureza, razão pela qual nos voltamos plenamente para o Deus verdadeiro, o qual pode nos socorrer. No momento em que acontece a confissão por parte do pecador, a pessoa está demonstrando uma atitude também de responsabilidade, pois de fato assumiu o que praticou, sem transmitir para outros as suas culpas, como fez Adão no Éden. A confissão

é por demais relevante porque mostra que nesse ato a pessoa não quer mais conviver com uma vida dissimulada, escondendo seus pecados, mantendo uma vida de aparência, antes, quer seguir em frente com uma vida santa, limpa e verdadeira diante de Deus, por isso busca em Cristo o perdão (1 Jo 1.9).

  É preciso entender o quanto a confissão de pecados é maravilhosa. Por meio dela pode acontecer a cura como também a liberdade, como é bem pontuado por Salomão: "o que as confessa e deixa alcançará misericórdia" (Pv 28.13). Na confissão, o peso da carga do pecado é deixado de lado, não há mais aquele sentimento de culpa, medo e desespero, pois Jesus alivia tudo (Mt 11.28,29). Pela confissão, Cristo concede o perdão, o qual vem acompanhado da restauração espiritual e emocional, pois o amor de Deus concede o perdão. Quando acontece a verdadeira confissão, a pessoa recebe não somente o perdão, mas uma mudança de vida, de comportamento, de atitudes, não há mais espaço para arrogância, sentimento de grandeza, pois foi humilhando-se diante do Cristo Eterno, por reconhecer os pecados e suas fraquezas, que o perdão foi concedido. Um cristão que é consciente de que foi perdoado sabe perdoar o seu semelhante, pois sabe o quanto isso é glorioso e maravilhoso.   A razão de a mulher pecadora agir daquela maneira com Jesus, quebrando todas as normas e etiqueta da época, foi porque ela sabia o tamanho do perdão que Ele lhe concedeu (Lc 7.44-48).

  Não podemos jamais considerar o ato de confissão como mera religiosidade, um rito; isso resultará em uma prática vazia. Porém, à luz da Bíblia, a confissão é uma atitude que nasce de um coração arrependido,

,,,,,, EM CONSTRUÇÃO

 

 


domingo, 7 de abril de 2024

CPAD : A carreira que nos está Proposta – LIÇÃO 1. O Início da Caminhada

 


Sumário

Introdução

1. O Início da Caminhada

2. A Escolha entre a Porta Estreita e a Porta Larga

3. O Céu: o Destino do Cristão

4. Como se Conduzir na Caminhada

5. Os Inimigos do Cristão

6. As nossas Armas Espirituais

7. O Perigo da Murmuração

8. Confessando e Abandonando o Pecado

9. Resistindo à Tentação no Caminho

10. Desenvolvendo uma Consciência de Santidade

11. A Realidade Bíblica do Inferno

12. A Bendita Esperança: a Marca do Cristão


Introdução

  Sinto-me muito deslumbrado pela oportunidade que mais uma vez me é facultada, a produção desta obra literária chamada A Carreira que nos Está Proposta. Seus capítulos são muito relevantes, envolvendo temáticas que delineiam o início de uma vida com Cristo, que se dá pelo novo nascimento, ao seu epílogo, ser como Cristo é e chegar às mansões celestiais. Ao longo do conteúdo que será exposto, compreenderemos que essa jornada é longa e requer todo o cuidado necessário para não perdermos de vista o alvo (Fp 3.14), arrefecendo em nossa vida espiritual.

  Nos capítulos propostos, procuramos matizar diversas passagens bíblicas, desde o Antigo até o Novo Testamento, evidenciando que é possível passarmos por vales, despenhadeiros, tempestades, desafios, inimigos, decepções, abandono, perdas, ganhos, altos e baixos, morte, mas chegarmos ao destino prometido, pois o Supremo Pastor está conosco (Sl 23.4).

  A jornada de Paulo até Roma, para estar na presença de César, não seria nada fácil, mas Deus prometeu que o levaria até seu destino. Esse apóstolo enfrentou tempestades, noites escuras, desespero, perda do transporte que o conduzia, mas Deus lhe disse: "[...] não temas! É preciso que compareças perante César" (At 27.20-26, ARA). Mas todo o diferencial está na expressão "Deus por sua graça", afinal, é impossível chegar ao nosso destino final se não pela graça de Deus.

  Não há promessa de Deus na Bíblia de que nossa jornada para o Céu será fácil, Jesus mesmo disse que nesse mundo teríamos aflições, e disse isso para que tivéssemos paz (Jo 16.33). Certo escritor com muita propriedade disse: "Deus nunca nos prometeu uma viagem tranquila, mas, sim, que chegaríamos". Paulo chegou salvo à praia, tanto ele como os demais companheiros, destarte, é dito como eles chegaram: em tábuas, nos destroços do navio, por isso se diz: "E foi assim que todos se salvaram em terra" (At 27.44, ARA).

  Esse mesmo apóstolo esclareceu como foram suas jornadas desde o momento em que abraçou a fë e o chamado de Cristo para fazer a obra: "em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos" (2 Co 11.26, ARA).

  No seu aspecto literal, a jornada aponta para a remoção de uma pessoa de determinado lugar para outro, biblicamente fala de uma viagem ou caminhada (Gn 13.3; 2 Co 11.26). No Antigo Testamento, no livro de Números, há quatro palavras que o descrevem bem: "serviço", "ordem", "falha", "peregrinação". Do capítulo 1 ao 9, Israel está no Sinai; do 10 ao 19, do Sinai até Cades; do 20 ao 36, de Cades a Moabe; o versículo-chave desse livro é Números 33.2, e a palavra-chave é peregrinação.

   Durante a peregrinação de Israel, por não atentarem para os ditames bíblicos, mas se entregarem aos seus desejos, idolatrias, costumes dos povos pagãos, rebeldia, murmuração, incredulidade, prostituição, muitos perderam o alvo, e o mais triste, conforme pontuado por Paulo: "Deus não se agradou da maioria deles, razão por que ficaram prostrados no deserto" (1 Co 10.5). Note que há duas expressões verbais fortes nesse versículo. A primeira é não se agradou, eudokeo, parecer bom para alguém, ser a satisfação de alguém, não houve prazer de Deus neles; o segundo verbo é katastronnumi, espalhar sobre o chão, prostrar, matar, abater. Não foram adiante, ficaram mortos no deserto.

  Na caminhada com Cristo somos convidados a calçar os pés com a preparação do evangelho da paz (Ef 6.15). De modo análogo, as sandálias militares romanas eram projetadas especificamente para a proteção dos pés, buscando manter o soldado equilibrado e firme em qualquer combate; ainda que estivesse em terreno acidentado, capacitava-o a ter agilidade e apoio nos pés para se movimentar. Se estivermos em Cristo e calçarmos os pés com o evangelho, podemos começar a jornada, pois desse modo não temeremos as mentes usadas por Satanás, as vās filosofias, o pós-modernismo, o secularismo, ateísmo ou naturalismo. Entraremos pela porta estreita e o caminho apertado, seguiremos impávidos, frente aos nossos três grandes opositores: o Diabo, a carne e o mundo, sempre orando e vigiando (Mt 26.41), na certeza de que a Canaã Celestial é logo ali.



  I – A Caminhada com Cristo

1. Compreendendo os dois caminhos

Logo nos primeiros capítulos de Gênesis, nos deparamos com a criação do homem, que foi algo totalmente projetado por Deus (Gn 1.26). A princípio, Deus criou todas as coisas, o que era bom, mas sem a presença do homem a criação estava incompleta (Gn 1.31). É importante compreender que esse homem não surge por um acidente ou uma ideia vaga, mas é resultado do conselho divino, bem projetado.

  Na criação do homem, pelo relato divino, descarta-se qualquer ideia de evolução, não dando espaço para o homem pré-humano, conforme os livros seculares ensinam, relacionando seu surgimento através de um animal. Não, antes esse homem foi criado por meio do poder de Deus de modo muito especial (Gn 2.7), dispensando a ideia de que o primeiro homem foi criado de uma forma pré-orgânica. O homem foi feito de modo especial, não está no mesmo nível do animal irracional. Isso se nota no fato de que o seu corpo, ao morrer, volta ao pó, mas seu espírito a Deus (Gn 3.19). Jamais se pode comparar a criação de Adão com a dos animais, ele foi feito do pó da terra, e logo sua vida surge com o sopro de Deus. Ainda que a frase “alma vivente” seja aplicada também aos animais (Gn 1.21-24; 2.19), jamais qualquer animal foi feito à imagem e semelhança de Deus. Portanto, há diferença entre o homem e o animal.

  A imagem na qual Adão foi criado foi sendo passada para os seus descendentes (Gn 5.1-3; 9.6), e por meio dela se quer expressar que esse ser feito de barro tem o reflexo concreto de Deus em sua vida. No hebraico, a imagem é tselem: imagem, semelhança; trata-se de uma imagem moldada, uma figura formada e representativa (2 Rs 11.18; Ez 23.14; Am 5.26). Já a palavra semelhança, demuth, corresponde a similaridade, a se melhança de, como. Ao longo do tempo, houve debates constantes entre os teólogos cristãos para a compreensão desses dois termos, afirmando que a palavra imagem tratava da questão física, ao passo que semelhança visava ao aspecto ético da imagem de Deus. Por exemplo, um dos Pais da Igreja, Irineu, cria que imagem apontava para liberdade, razão, já a semelhança era a possibilidade da comunicação do homem com Deus, a qual foi perdida na Queda.

  As mais diversas opiniões surgiram para tentar dar explicação do que seria o homem criado à imagem de Deus. Alguns falaram de corporalidade, envolvendo o lado material e imaterial, nesse caso, o corpo do homem seria parte da imagem de Deus. Essa colocação não tem tanto cabimento, visto que Deus é espírito e não possui corpo (Jo 4.24). A outra linha de pensamento fala da imagem de Deus no tocante à sua personalidade, que é chamada visão não corpórea, a qual destaca a questão da moral, do domínio, do exercício da vontade, das faculdades intelectivas: a habilidade de falar, de organizar. No relato da criação do homem e da mulher está claro que ambos foram feitos completos, tendo a parte material e imaterial. Na verdade, esse ser criado à imagem e semelhança de Deus tem um corpo que veio de Deus, e que no futuro será útil (1 Co 15.44), tem uma vida que se origina do Pai Eterno (At 17.28,29), tem habilidade, capacidade, vontade própria, domínio e capacidade de manter comunhão com Deus. Nisso tudo se configura o ser com a imagem e semelhança de Deus.

  A Bíblia descreve no início de tudo um ser perfeito, inocente, que tinha a santidade no nível de criatura, não absoluta, como Deus, por isso foi posto um teste da parte de Deus e cedeu. A permanência nesse nível de santidade lhe garantiria a imortalidade, pois a morte passou a reinar depois do seu pecado (Rm 5.12). A história da jornada do homem nesta terra teve seu começo com Deus. Na verdade, no geral, compreendemos que a imagem de Deus no homem envolvia um ser que foi criado em perfeição e santidade, um ser inteligente, vivo e moral. Após a Queda, ele não perdeu essa imagem; ela foi maculada, contudo jamais apagada, pois, nesse caso, se a tivesse perdido, então como poderíamos caracterizá-lo como um ser racional, inteligente e vivo?

  Deus é maravilhoso e bondoso. Apesar da Queda de Adão, sua imagem vai sendo passada para sua geração (Gn 5.3; 1 Co 11.7), ao que vai acontecendo por meio da geração natural. Os filhos possuem seus corpos, os quais vieram de seus pais, dentre outros elementos genéticos; a grande questão nesse particular é quanto à parte imaterial, como ela é passada de pai para filho? Há três concepções para essa questão. A primeira tem base na filosofia platônica, denominada de preexistência, na qual se afirma que a alma de todos os seres humanos foi criada por Deus no começo do Universo e presa nos corpos humanos como uma forma de punição. Há um processo no qual as almas vão se encarnando ao longo do processo histórico, de maneira que vão se tornando pecadoras. Tal ensino era chamado de transmigração da alma. Um dos Pais da Igreja, Orígenes, tinha uma defesa similar a tal pensamento, porém, esse argumento não tem qualquer base bíblica, de maneira que os cristãos comprometidos com a Bíblia não apoiam tal ensino, posto que a concepção de punição e vida eterna é outra.

  Há mais duas ideias que visam explicar como se processa a questão do imaterial para o homem. Uma delas é o criacionismo, no qual se ensina que Deus cria a alma do homem no momento da concepção ou do nascimento, unindo-a de imediato ao corpo. A alma tem pecado não porque a criação tenha algum tipo de defeito, mas porque mantém contato com a culpa herdada através do corpo. O ensino do criacionismo tem base em Charles Hodge, c, para firmar seu ponto de vista, faz uso de Números 16.22 e Hebreus 12.9, afirmando que a alma se origina em Deus, en- quanto o corpo vem dos pais terrenos. Ele dizia que a alma, sendo natu- ral, não poderia jamais ser transmitida por meio da concepção natural. Muitos teólogos reformados são dessa opinião.

  Em relação ao traducionismo, o que se entende é que a alma vem por meio do processo da geração natural, semelhantemente ao corpo. Para confirmar tal ensino, se faz uso de Hebreus 7.10 e Genesis 2.1-3. Com tais passagem se afirma que, ao descansar, Deus não criou mais nenhuma nova alma (Gn 2.7), nenhum fölego de vida foi soprado sobre outro ser humano, além de Adão. Muitos teólogos passaram a pender para o tra- ducionismo, pois no caso do criacionismo, por meio de seu argumento, Deus cria uma alma perfeita, depois poderia fazê-la cair. No seu sentido fisiológico, o ser humano é visto no aspecto geral com alma e corpo, as- sim, o lado fisico e psicológico se desenvolve simultancamente.

  Fizemos toda essa colocação para que o leitor entenda e compreenda que é a partir da Queda que o ser humano passa a herdar a natureza pecaminosa estando separado de Deus (Rm 3.23), mas o homem tem a opção de escolha, se quer trilhar sua jornada neste mundo com Deus ou sem Deus. Depois da Queda, todas as pessoas iniciam sua jornada por meio do nascimento natural com a natureza carnal. Isso se comprova muito bem pelas palavras de Cristo a Nicodemos: "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espirito" (Jo 3.6). Por meio desse nascimento, o homem recebe a parte humana, a carne, que está sujeita à morte (Rm 5.12). Tudo na natureza humana está ligado ao que é próprio dessa existência no plano fisico.

  O homem nascido da carne não tem em sua natureza a espiritualidade de Cristo, o que é chamado de natureza espiritual: a sua inclinação é sempre para as coisas fisicas e carnais. Como não tem a natureza espirirual plantada no seu ser, a tendência da vida na carne é totalmente contrária aos princípios divinos, razão pela qual Paulo diz que os que estão na carne não podem agradar a Deus (Rm 8.8: GI 5.19-21). A condição pecaminosa do homem é descrita teologicamente como pecado original.

  O nascimento espiritual só é possível mediante a regeneração, a santificação, por meio do qual o homem poderá começar sua caminhada segundo o querer de Deus, para ajustar-se ao padrão de Cristo Jesus, e, escatologicamente, ter como desfecho a restauração de sua imagem e semelhança conforme Cristo (Rm 8.29; 1 Co15.49; 2 Co 3.18). Portanto, quando o homem nasce do casal, macho e fêmea, começa sua jornada na terra, sua vida física. Se escolher andar sem Cristo, sem passar pelo novo nascimento, seu destino é a vida eterna separada de Deus. Porém, se aceitar o convite de Jesus (Mt 11.28-29), possibilitando a entrada em sua vida, nasce um filho de Deus, um novo homem com um novo destino, passando a estar de imediato nas regiões celestiais com Cristo (Ef 1.3), e, ao findar sua jornada neste mundo, terá direito a viver na eternidade com Cristo Jesus (Jo 5.24).

  2. Os três companheiros da nossa caminhada

  O começo da nossa jornada com Cristo, a salvação, tem a participação conjunta da Trindade. É necessário uma fé firme no Deus trino e uno, no que envolve nosso relacionamento pessoal com os membros da Trindade. No que tange ao papel que cada membro desenvolve em prol da nossa salvação, todos os temas da reconciliação, expiação, redenção, justificação e propiciação dependem da cooperação distinta do Deus uno e trino (Ef 1.3-14). Na Teologia Sistemática Pentecostal (2009), sobre a Trindade, seus autores dizem: “Cada pessoa da Trindade é Deus. A Palavra do Senhor descarta a ideia de triteísmo (três Deuses) e de unicismo. A Trindade pode ser definida como a união de três Pessoas — o Pai, o Filho e o Espírito Santo — em uma só divindade. Tais pessoas, embora distintas, são iguais, eternas e da mesma substância. Ou seja, Deus é cada uma dessas pessoas”. Não podemos negar que a doutrina da Trindade para nós é um mistério, primeiramente porque o Deus que a Bíblia fala é grandioso, majestoso, sublime, não pode jamais ser dissecado, explicado pela nossa ínfima razão humana. Assim, nesse assunto, o cristão temente e reverente às Sagradas Letras aceita com fé e reverência ao que é revelado sobre o Deus trino e uno.

  Entendemos a razão como a faculdade concedida ao ser humano para avaliar e ponderar ideias. Teologicamente, podemos asse[1]vera que a razão é descrita como um canal imprescindível para dar e receber informações. Cada cristão verdadeiro é consciente disso, todavia, para a compreensão das verdades divinas, faz-se necessário que a nossa mente seja a de Cristo (1 Co 2.16). Para compreender as coisas espirituais, e que jamais a nossa razão deve ser autônoma, antes ela tem que estar subordinada a uma autoridade maior, fora de nós mesmos, em Deus, pois nossa razão é falha e finita. A nossa razão, envolvendo a Trindade, não pode jamais ser racionalista, ela vem como um instrumento de auxílio, e jamais de domínio, posto que uma razão humana nunca conseguiria explicar a pessoa de um Deus Santo e Eterno.

  Portanto, compreendemos a doutrina da Trindade como uma realidade bíblica que descreve o relacionamento do Pai com o Filho e com o Espírito Santo. Essa verdade está revelada na Palavra, dela jamais podemos fugir, não se trata de uma invenção humana nem de algo abstrato. Nunca podemos nos voltar para a doutrina da Trindade como uma formulação de homens da Igreja, pelo contrário, esse ensino está revelado na Palavra, tanto no Antigo como no Novo Testamento.

   Toda a causa da nossa salvação foi uma ação primeiramente do Pai, envolvendo o seu Filho para a nossa redenção e justificação. É por intermédio do sangue de Cristo Jesus que se dá o perdão dos nos[1]sos pecados. Acontece também a denominada propiciação, que é o ato realizado para aplacar a ira de Deus, de modo a ser satisfeita a sua santidade e a sua justiça, tendo como resultado o perdão do pecado e a restauração do pecador à comunhão com o Senhor. No Antigo Testamento, a propiciação era realizada por meio dos sacrifícios de animais, os quais se tornaram desnecessários com a vinda de Cristo, que se ofereceu como sacrifício em lugar dos pecadores (Êx 32.30; Rm 3.25; 1 Jo 2.).

   Nosso Cristo Jesus, por meio do seu sacrifício, nos tornou agra[1]dáveis a Deus. Hoje Ele atua em nosso favor perante o Pai fazendo nossa defesa (1 Jo 2.1). Ele é a propiciação pelos nossos pecados e do mundo inteiro (1 Jo 2.2), e isso nos dá certeza plena e segurança da nossa salvação, por Jesus ser tanto o nosso Salvador como também a oferta agradável a Deus pelos nossos pecados.

  A terceira pessoa que está presente em nossa jornada para o Céu é o Espírito Santo. Nosso Senhor Jesus falando dEle usa a expressão grega allon (Jo 14.16). Seria uma Pessoa distinta, mas do mesmo tipo que Ele. O trabalho do Espírito Santo na vida do salvo, conforme Tito 3.5, é empregar a obra realizada por Cristo Jesus no novo nasci[1]mento. O Espírito Santo é a terceira Pessoa da Trindade, que busca levar o cristão a um viver santo (1 Co 6.11), nos concedendo acesso ao Pai (Ef 2.18; 2 Co 5.17,21), por meio de Jesus, o nosso Sumo Sa[1]cerdote (Hb 4.14-16).

   Portanto, pelo exposto, podemos entender que a nossa caminha[1]da para o Céu envolve as três Pessoas da Trindade; Pai, Filho e Espírito Santo. Sem o papel desempenhado por cada um dEles não seria possível a doutrina da expiação vicária, por meio da qual Cristo Jesus, na sua morte, levou os nossos pecados sobre si. Pai, Filho e Espírito Santo são os três companheiros presentes na nossa caminhada para a Canaã Celestial. O Pai Eterno é o Grande Criador, que envia Jesus para morrer na cruz pelos nossos pecados, que desse modo está expressando seu grande amor (Jo 3.16). Jesus Cristo, em ação, desenvolve o trabalho da nossa salvação, encarnando-se para nos dar vida eterna e trazendo Deus para perto de nós (Jo 1.14; Mt 1.23). O Espírito Santo trabalha em nossa vida para que a obra de Cristo seja uma realidade em nosso ser, nos conduzindo à santidade, às verdades divinas (Jo 16.13).

   Quem nesta vida negar a Cristo Jesus não tem o Pai, e quem negar o Pai, não tem o Filho (1 Jo 2.23). No demais, há de perder a vida eterna, posto que é tão somente pela obra de Cristo na cruz do Calvário que a justiça e a graça divina nos são reveladas. O homem imperfeito é reconciliado com o Deus Perfeito por meio de Jesus Cristo (Gl 3.11-13).

  II – O Novo Nascimento

  1. Por que precisamos do novo nascimento?

  Não precisamos ir longe para respondermos tal pergunta. Paulo diz: “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23, ARA); logo, o pecado leva à morte (Rm 5.12; 6.23). No pecado, o homem não apenas tem a consequência da morte, mas está separado de Deus, e para que possa achegar-se a Ele é preciso nascer de novo.

   Vivendo no pecado, o homem segue a vida da velha natureza, cujas obras são descritas por Paulo em Gálatas 5.19-21. Logo, podemos compreender o estado em que a humanidade caminha sem Deus (Rm 1.21-32). Sobre isso, o grande pastor Billy Graham afirmou que parece que muita coisa está melhorando no mundo, menos o homem. Isso é uma realidade sem precedente, pois o homem, com sua capacidade, pode melhorar seu ambiente. Por meio da cultura e da tecnologia, faz diversas mudanças e conquistas, mas como é do[1]minado por uma natureza pecaminosa, sempre caminha para um abismo, posto que o viver na carne não o conduz a agradar a Deus (Rm 8.8).

  Os jornais e mídias revelam o panorama em que a humanidade está envolvida: assassinatos, roubos, crimes, desigualdade social, egoísmo, racismo, medo, depressão, trapaças, mentiras, estupros, aborto e drogas. Não faltam análises das ciências comportamentais, como, por exemplo, da psicologia, antropologia e sociologia, na incansável busca de compreender o homem e sua natureza, o porquê de suas reações maléficas e comportamento alterado. Mas esse esforço não tem alcançado sucesso, visto que analisam o homem apenas de fora para dentro, e não de dentro para fora. Caso isso fosse feito, logo se compreenderia a realidade, pois Jesus deixou claro os sinais que es[1]tão do lado de dentro de um homem de vida não transformada (Mt 15.19; Gl 5.19.21).

  A sociedade olha para o homem apenas no seu aspecto biológico, mas não crê nem aceita falar que ele é um pecador miserável, separado de Deus, e que por viver na prática do pecado suas obras são maléficas.

  As ditas teologias modernas, teologia queer, teologia liberal, teologia da libertação, teologia moderna e teologia crítica, todas procuram tratar apenas das questões sociais descartando o homem como um ser pecador separado de Deus, que precisa arrepender-se de seus pecados crendo em Cristo para ser salvo. Na atualidade, presenciamos o abrandamento de muitas mensagens quanto ao pecado e à necessidade de arrependimento, como pregavam João Batista e Jesus Cristo (Mt 3.2; 4.17). É claro que a Igreja de Jesus Cristo deve combater as injustiças sociais, as políticas opressoras e precisa estar ao lado dos pobres e necessitados, temas que sempre es[1]tiveram presentes na Bíblia (Dt 24.17), visto que nosso Deus é descri[1]to como estando ao lado dos menosprezados, dos menos afortunados, e a prática do amor e acolhimento de tais pessoas é uma recomenda[1]ção divina presente no Antigo e Novo Testamento (Gl 2.10). Todavia, é preciso ter em mente que não basta apenas querermos mudanças em lugares de grande pobreza e a implantação de boas políticas públicas, se nos esquecermos de que o problema não está do lado de fora, mas do lado de dentro, no coração, o qual precisa passar por uma transformação urgente (Jr 17.9; Ez 11.19; 36.26). Jamais haverá sociedade modificada, melhorada, sem a real transformação do coração, o que só é possível pela mensagem do evangelho de Jesus Cristo (Rm 1.16).

  Todos os homens na terra precisam do novo nascimento porque existem dois problemas em suas vidas: o primeiro é espiritual e o segundo é social. No espiritual, o homem que vive em pecado está morto (Ef 2.1,5), situação que o torna incapaz de conhecer a Deus e manter um relacionamento com Ele (1 Co 2.14). Em Romanos 3.10- 18, Paulo evidencia a situação espiritual do homem que vive em pecado, e que esse pecado se alastrou e o conduziu a uma condição pecaminosa atraindo a ira de Deus.

   Toda a humanidade está em pecado, por meio de seus esforços e obras próprias jamais conseguirão se libertar, isso foi bem pontua[1]do por Paulo, destarte, qualquer caminho tomado pelo homem sem Cristo será totalmente em vão (Jo 15.5), de modo que o problema do pecado só pode ser resolvido em Cristo Jesus (At 2.38). Em Mateus 18.3 está claro: “E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (ARA).

  No aspecto espiritual, o homem precisa despir-se do velho homem, isto é, da velha natureza pecaminosa (Cl 3.9,10), passar pelo lavar regenerador do Espírito Santo (Tt 3.5), receber uma nova natureza, a divina, e assim o problema do pecado estará solucionado (1 Pe 1.4). O segundo grande problema do homem é a questão do social, que é ampla e envolve questões nas mais diversas áreas. A natureza de tais problemas é bem complexa, pela ótica humana, e a solução deles só é possível pelas abordagens multifacetadas, envolvendo a participação do governo, organizações, população, indivíduos. Não se pode jamais negar que há discriminação, falta de emprego, opressão política, racismo, desigualdade social, pobreza, violência, saúde precária. Pessoas com boas intenções podem promover ações políticas, inclusive a Igreja poderá desenvolver atividades de cunho social, como tem feito ao longo de sua existência, criando orfanatos, escolas, dando dignida[1]de pela valorização da vida humana como um presente de Deus.

   A Igreja não se omite diante das questões sociais, porém está consciente de que apenas isso não basta, pois o maior problema é a questão espiritual, a condição pecaminosa na qual o homem vive. Como já dito, não basta apenas sermos boas pessoas, realizarmos grandes projetos sociais, lutar por implantações de grandes políticas públicas; tudo isso é importante, todavia, o grande problema está alojado do lado de dentro do homem: sua natureza pecaminosa, e ela só pode ser desfeita pela transformação ocasionada pelo evangelho.

   Além desta vida, há uma vida eterna; dela só poderá desfrutar aquele que nasceu de novo (Jo 3.3,5). O homem que está morto no pecado precisa da graça e do favor divino para viver, para ter os seus pecados perdoados, pois a vida que sua alma precisa só pode vir de cima, isto é, de Deus. Obreiros, pastores, pregadores e teólogos, proclamemos com vigor e no poder do Espírito Santo a Palavra de Deus, dizendo ao mundo em pecado que só Jesus pode salvar (At 4.12;16.31). Priorizemos em nossos púlpitos, escolas bíblicas e seminários a necessidade que o homem tem do novo nascimento. Si[1]gamos a recomendação de Deus ao profeta Ezequiel para que todos se convertam (Ez 14.6) e gritemos ao mundo para que se voltem para Deus, pois só Ele pode salvar (Is 45.22).

  2. A religião não faz nascer de novo

   O sistema religioso pode ser descrito como um conjunto de crenças, práticas e rituais que são observados, seguidos e praticados por um grupo de pessoas, assente na fé em alguma divindade. Podemos asseverar que a estrutura da religião propõe ao homem respostas para muitas de suas questões existenciais, concede orientação moral e dá um sentido à vida. No aspecto antropológico, afirma-se que o homem é um ser em essência religioso, naturalmente ele pende para a religião. Além do mais, outras ciências, como, por exemplo, a sociologia, declaram que o homem anseia por uma experiência religiosa. As muitas religiões no mundo vão surgindo e criando seus símbolos, suas celebrações, suas doutrinas, seus ritos, suas crenças, desejando com isso, mesmo em meio a tantas diferenças, ligar o homem a Deus.

  Devemos entender que a religião sempre fez parte da vivência humana, buscando responder às perguntas cruciais: Qual é o real sentido da vida? De onde o homem veio? Por que estamos aqui? Para onde iremos ao final de tudo? É na religião que tais perguntas angustiantes podem encontrar suas respostas, concedendo ao homem certo tipo de consolo e conforto. É nesse prisma que se pode afirmar que a religião dá respostas para as questões existenciais, dando à alma do homem paz, consolo, esperança, e levando cada pessoa a entender que a vida humana tem sentido.

  O mundo atual é descrito como a era da tecnologia, da globalização, da ciência, da cultura, e, mesmo assim, é marcado também pela violência, estupro, desigualdade, terrorismo, desvalorização da vida humana, o que revela que o ser humano perde a sua real essência. Esse homem perdido sente um vazio em sua alma, apesar de todo avanço que possa promover. Ele jamais pode se separar do sagrado; visto que Deus soprou em suas narinas o fôlego de vida, há algo de Deus no homem (Gn 2.7). Ainda que tateando, como disse Paulo, o homem busca Deus (At 17.27). A ciência com seus avanços e a racionalidade com sua confiança plena na razão, buscando deixar Deus de lado, não conseguem tirar a religião de cena, uma vez que não possuem as respostas precisas para aquilo que gera desconforto e tristeza na alma do homem. Assim, a religião se apresenta com sua proposta.

  A religião atinge o que a tecnologia não pode atingir, o que a racionalidade não pode dar: a paz e o conforto para a alma. Entretanto, é preciso levar em consideração que existe a religião que segue os princípios exarados na Palavra, mas existe também a religião natural, a qual é produto do homem, cuja base é o egoísmo humano, ela está totalmente diante de Deus, quem falou dela foi o apóstolo Paulo (Rm 1.23). Ela pode envolver a crença em um deus ou deuses e ensina que por meio dos esforços humanos pode se chegar a Deus. Assim, qual[1]quer coisa pode tornar-se religião. Afirmamos categoricamente que o cristianismo verdadeiro não é religião, mas trata-se de um relaciona[1]mento firmado entre Deus e o homem por meio do sangue de Cristo Jesus, pelo qual fomos perdoados (1 Pe 1.18,19; Hb 9.22).

   As religiões humanas ou naturais, criadas pelos homens, possuem seus absurdos, razão pela qual muitos dizem: “Não quero ter religião”. Não se pode negar nem esconder que em nome da religião muitos crimes e atrocidades foram cometidos. Em nome da religião e seus deuses, filhos foram sacrificados, outros se lançaram às práticas mais horríveis na intenção de terem seus pecados perdoados. Por exemplo, na Índia, pessoas se deitam em tábuas de pregos, ficam sem comer e beber, apenas para serem perdoadas. É costume bem prático na África homens caminharem sobre brasas; se saírem totalmente ilesos, sem se queimar, a conclusão é de que foram aceitos por Deus. Caso contrário, são vistos como pecadores.

  Na atualidade, muitos fazem uso do termo religião para se referir a todas as seitas, envolvendo, identificando-as como maometismo, budismo, hinduísmo, taoísmo, confucionismo, inclusive, colocam nesse meio também o cristianismo. É importante analisar que as pa[1]lavras de Paulo são certeiras quando ele faz alusão à religião natural, a qual substitui o plano original de Deus. Sua introdução na vivência humana se dá pelo próprio homem (Rm 1.20-25). Por meio da religião natural, pode-se analisar que houve deturpação das verdades divinas reveladas. Assim, o homem não apenas reprimiu tal verdade, mas trouxe o erro e criou sua religião. Nesse tipo de religião, pode até haver certos elementos de verdade, certos padrões éticos, termos que por vezes são semelhantes aos da Bíblia, mas, na verdade, são apenas ilusões, nada que possa de fato salvar. No caso da religião humanista, há um desprezo para com a Bíblia. Essa religião não aceita as ideias teológicas envolvendo a questão do pecado, da necessidade da justificação pela fé por meio da morte de Cristo como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29).

  O sistema religioso possui coisas boas, como a prática de fazer o bem; destaca aspectos éticos e morais; têm seus ritos, boas obras, ações comunitárias, reformas sociais; porém, nada disso salva, posto que a salvação é resultado da fé em Cristo Jesus e na sua obra salvífica, que gera um relacionamento perfeito com Deus e concede a verdadeira vida eterna (Rm 5.1,2).

   Existe uma religião verdadeira e outra falsa. A falsa é aquela criada pelo homem. Quem primeiro a desenvolve é Caim. Ele se aproxima de Deus com sua oferta, mas seu coração não era verdadeiro, e sim egoísta, falso, superficial, sem obediência, sem fé, pois era do Maligno (1 Jo 3.12). Ele quer se achegar ao Senhor do seu jeito, pois o texto diz que suas obras eram más. Nesse particular, de modo análogo, dizemos que Caim é um protótipo da religião hu[1]mana, natural, vazia, do esforço próprio, Deus não se agradou de sua oferta (Gn 4.5). Por outro lado, ainda seguindo a ilustração dos dois irmãos, temos Abel. Este foi ao Senhor com um coração puro, verdadeiro, em uma atitude de reverência, humildade, sinceridade, adoração, verdade, e prontamente Deus atentou para sua oferta, isto é, se agradou, do hebraico hev (sha‘ah) olhar para, considerar, fitar ou observar ao redor (Gn 4.4).

   A religião humana, natural, não pode jamais promover a salvação; por outro lado, a religião verdadeira, que se aproxima de Deus com fé, buscando sua Palavra, crendo em Jesus Cristo, pode sim salvar.

  3. O que é nascer de novo?

   O nascer de novo está escrito no Novo Testamento, aparecendo aproximadamente em 85 passagens fazendo alusão à nova vida. Essa nova vida não é produto do homem, do seu interior, de seu esforço, mas trata-se de uma ação plenamente do Espírito Santo, o que é de[1]nominado na Bíblia de novo nascimento (Jo 3.3-5), o que ainda pode  ser descrito de nascer da parte de Deus (Jo 1.10-11; 1 Jo 3.9), nova criação (Gl 6.15).

   Em suma, nascer de novo é um termo bíblico que quer dizer regeneração (Tt 3.5). O novo nascimento trata-se especificamente de uma ação sobrenatural, não é um esforço do homem, porém, o que o homem deve fazer é decidir se aceita ou não essa ação do Espírito Santo que vem de cima, isto é, de Deus. Na verdade, podemos dizer que o novo nascimento é um milagre operado por Cristo na vida do homem que o aceita com fé, processando tudo isso sobre quatro passos: justificação, regeneração, adoção e santificação.

   A salvação como milagre começa com a justificação. Por intermédio dela se tem a culpa do pecado apagado (Rm 5.1), posto que antes, devido à depravação da natureza humana, colocava o homem distante de Deus e em condenação. Quando o homem aceita a Cristo Jesus como Senhor e Salvador pela fé, então começa a nova vida, ou seja, a regeneração. Isso se dá de modo instantâneo, logo que a justiça de Cristo passa a agir em sua vida. Pela regeneração o homem passa a ter a natureza de Cristo implantada em seu ser, isso pela ação do poder do Espírito Santo, por esse motivo que Paulo esclarece que nada disso é pelo esforço do homem (Tt 3.5; 1 Jo 1.12,13).

   É importante entender que por meio dessa nova natureza o cristão poderá seguir sua jornada de fé ciente que tem dentro de si a força divina que o capacita a viver em retidão e seguir firme às mansões celestiais. É possível agora seguir em frente porque a nova natureza foi implantada, não estando mais o homem naquela situação de morte espiritual (Ef 2.1,5), sem capacidade de manter um relacionamento perfeito com Deus, de conhecê-lo verdadeiramente; pelo contrário, agora poderá não somente penetrar na dimensão espiritual, como também discernir tudo espiritualmente (1 Co 2.14).

  Por intermédio da Palavra compreendemos a necessidade do novo nascimento, pois estando na condição de um pecador, dominado pela velha natureza pecaminosa, não era possível jamais esse homem en[1]trar no Céu, pois isso só é para quem é nova criatura (Jo 3.3). Sem a nova natureza não há como resistir à natureza pecaminosa (1 Jo 3.9), pela nova natureza, o cristão pode seguir em frente de cabeça erguida, pois é consciente de que tem uma vida agora justificada, reta, diante de Deus (1 Jo 2.29). Lendo João 5.24, encontramos os benefícios da nova vida: vida eterna e vida presente com Cristo neste mundo. É por meio dela que vivemos com a expectativa da vida no porvir, que é chamada de vida espiritual. A nova vida tem o espírito humano fortalecido pelo Espírito de Deus, assim não se cumpre os desejos da carne (Gl 5.16). A vida que nos é comunicada pelo Espírito Santo gera em nós comunhão com Deus, pois não vivemos mais para a vida neste mundo pecaminoso (Rm 6.11). Haverá uma plenitude ainda maior dessa vida que já se vive aqui com Cristo neste mundo, pois quando o mortal se revestir da imortalidade, então seremos glorificados, sendo como Cristo é (1 Jo 3.2,3).

   Em se tratando da nova natureza, o cristão vive agora na esperança da glória de Deus. Como sua vida é espiritual e desenvolve comunhão com Deus, ainda que esteja neste mundo, essa nova natureza lhe concede poder, pela ação do Espírito Santo, para não pensar mais nas coisas desta vida, mas ter atitudes diferentes para com elas, como, por exemplo, passa a ter ódio do pecado, priorizando em seu viver diário a vida em Cristo Jesus. Pedro é bem categórico em afirmar que agora possuímos a natureza divina (1 Pe 1.4).

   É importante dizer que, ainda que tenhamos a nova vida e uma nova natureza, a velha natureza não foi debelada de uma vez por todas, de modo que o cristão terá que lutar contra o pecado e a tentação, mas, doravante, pela nova natureza implantada, vinda do Espírito Santo, não se inclinará mais para carne, como era antigamente (Rm 8.8), e sim para as coisas do Espírito (Gl 5.16). Essas duas naturezas sempre estarão em conflito, a espiritual penderá para as coisas de Deus, ao passo que a carnal para as coisas pecaminosas (Gl 5.17), na verdade, é uma guerra constante (Rm 7.21), que é vencida pelo poder do Espírito de Deus (Rm 6.16).

  4. O novo nascimento e seu processo

  O homem por si mesmo jamais poderá desenvolver o novo nas[1]cimento. Todo esse processo, como já dito antes, trata-se de algo sobrenatural, uma ação direta do Espírito Santo de Deus. No texto do profeta Jeremias, objetivamente ele salienta que o homem não pode, por si mesmo, alterar sua natureza pecaminosa, da mesma forma que um etíope não pode mudar a cor de sua pele, nem tampouco o leopardo suas manchas (Jr 13.23). Por vezes, há da parte do homem uma luta para controlar seus desejos e não praticar coisas ruins, ou procurar fazer coisas boas, mas isso não quer dizer que sua natureza foi mudada. É claro, essa ação é limitada pela força humana, como acontece com uma represa, tenta por certo tempo segurar a água parada, mas não demorará para que haja um rompimento brusco. O profeta Zacarias disse: “Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6). Quando a transformação vem pelo Espírito Santo de Deus, implantando a nova natureza, de fato aconteceu a real transformação no homem interior, o que acontece teológica e biblicamente de três maneiras:

  Por meio da ação de ouvir a Palavra

   A regeneração ou o novo nascimento acontece quando o homem ouve a Palavra de Deus, o evangelho de Jesus Cristo, o qual tem o poder de transformar o pecador em uma nova criatura. Devemos pregar o evangelho a todos, pois somente ele tem o poder de agir no coração do homem. Por meio da mensagem do evangelho, o homem toma conhecimento dos seus pecados e da necessidade de ter o Salvador, Cristo Jesus (Rm 1.16).

   A definição que se pode dar do evangelho é a seguinte: a mensagem de salvação anunciada por Jesus Cristo e pelos apóstolos (Rm 1.15). “Evangelho” em grego quer dizer “boa notícia”. É preciso entender que a Palavra de Deus age poderosamente no coração do homem porque ela é viva e eficaz (Hb 4.12). O apóstolo Pedro esclarece que o homem é gerado não da semente corruptível, mas da incorruptível, a Palavra de Deus, a qual, vive e é permanente (1 Pe 1.23). O apóstolo Tiago afirma que nós somos gerados pela Palavra da verdade (Tg 1.18). Essas verdades nos levam a refletir sobre a importância que devemos dar à mensagem do evangelho, pois somente ela pode salvar. Assim, jamais desprezemos a real pregação da Palavra.

   Por meio da ação de crer e receber a Palavra

   É preciso que aquele que ouviu a Palavra não apenas manifeste uma grande alegria, mas que procure responder positivamente à mensagem pregada, rendendo-se a Cristo, crendo nEle de todo o coração e aceitando-o pela fé. É tão somente dessa forma que a real transformação é possível. O apóstolo João é bem claro em dizer que “quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1 Jo 5.11-13).

   Comunicação da vida verdadeira pelo Espírito Santo

   Após os dois passos mencionados é que o milagre da regeneração, como uma ação transformadora do Espírito Santo, irá se processar cabalmente, resultando na nova vida e nova natureza oriundas do Espírito Santo. Esses dois primeiros processos listados foram citados por Jesus a Nicodemos: nascer da água e do Espírito (Jo 3.5,6). Quando se ouve e crê na Palavra, recebendo-a de todo o coração, conforme fez o Eunuco (At 8.36,37), a regeneração acontece como ato instantâneo, abrindo-se a porta para se desenvolver uma vida de santificação, a qual é inicial, progressiva e final. Vale ressaltar que, no momento da regeneração, o novo convertido recebe a nova vida e a nova natureza, e, por meio da santificação, ele é capacitado a desenvolver na prática um novo comportamento.

  III – O Novo Testamento e a Caminhada de Fé do Cristão

  1. O Novo Testamento

   De posse da Bíblia Sagrada, de imediato, o cristão vai se deparar com duas expressões adjetivais: Antigo e Novo Testamento. Ambas fazem menção a pactos, o da Antiga Aliança e o da Nova Aliança. Aqui nos deteremos em analisar o Novo Testamento, que é a revelação de Deus para o bem de todos os povos. Jesus Cristo, o Messias e Salvador, veio na plenitude dos tempos (Gl 4.4), e com Ele teve início a Igreja, fundada sobre o alicerce do testemunho dos apóstolos. O Novo Testamento compõe-se de 27 livros, assim classificados: Livros históricos: Evangelhos e Atos (5); Epístolas de Paulo (13); Epístolas Gerais (8); Apocalipse (1).

   Ao nos voltarmos para o Antigo Testamento, vemos que ele está repleto de profecias messiânicas, isto é, atinentes à pessoa de Jesus Cristo. O número é de, aproximadamente, quarenta profecias com o tema. Os homens que a predisseram, alguns eram de alto nível cultural, outros, de baixo nível cultural. A abertura da profecia envolvendo a pessoa de Cristo começou com Gênesis 3.15, sendo que o desfecho delas se dá em Malaquias 3.

   O período que separa o Antigo e o Novo Testamento é de quatrocentos anos. Isso quer dizer que Deus, em sua sabedoria, onisciência e onipotência, escolheu o momento certo para que tudo tivesse seu pleno cumprimento. Tudo o que os santos da Antiga Aliança falaram de Jesus Cristo, envolvendo seu nascimento, obra, caráter, humildade, amor, morte e ressurreição, cumpriu-se cabalmente.

  Jesus mesmo deixou claro aos seus discípulos o que a Lei, os profetas e os Salmos disseram sobre Ele (Lc 24.44). Os livros bíblicos que mais falaram profeticamente da vinda de Jesus Cristo como o Messias foram: Salmos, Isaías, Zacarias, sendo que o destaque maior vem para Isaías, no qual constam aproximadamente 16 referências em relação ao Messias. Em destaque, o mais lido é o capítulo 53. Essas profecias falando de Jesus Cristo jamais o exaltaram como um chefe político, um grande filósofo, um camponês normal, um revolucionário, como desejam os estudiosos liberais que buscam desfazer de Cristo. Antes, as profecias bíblicas falando da vinda de Jesus como Messias o desta[1]cavam de duas maneiras: primeiramente, o Rei Messias (Sl 2.6-8; Dn 2.44; Zc 6.12,13); em segundo lugar, Jesus é descrito como um Servo Sofredor (Is 50.6-52; Dn 9.26; Zc 11.12).

   Por meio dessa conceituação precisa do Novo Testamento, o caro leitor poderá compreender que, ao tomar em mãos o Novo Testa[1]mento para fazer uso, não se tem uma obra qualquer, mas, sim, a revelação perfeita de Cristo Jesus. São 27 livros totalmente inspirados (2 Tm 3.16), os quais revelam o cumprimento do programa de Deus para o bem da vida humana, pois é pela doação de Cristo ao mundo por parte do Pai que a revelação perfeita e desejada para os homens se realiza (Mt 1.23).

  No Novo Testamento constam as verdades que antes estavam ocultas, profetizadas, mas agora totalmente reveladas (Hb 1.1). As obras do Novo Testamento tiveram a supervisão plena do Espírito Santo de Deus no processo de inspiração. Deus protegeu de erros os seus escritores (2 Tm 3.16; 1 Co 2.13; 2 Pe 1.20,21). Pelo conceito de Novo Testamento somos ensinados que o Novo Pacto, firmado com Deus para a nossa salvação, não se origina nem se modela no Antigo, quando animais inocentes eram mortos. Destarte, a Nova Aliança que vi[1]vemos com Cristo é resultado de seu sacrifício, seu sangue (Mt 26.28; 1 Pe 1.18; 1 Co 6.20), por meio do qual passamos a ter uma nova vida, um novo relacionamento com o Pai, de modo que nos tornamos agradáveis a Ele.

  2. O tema principal do Novo Testamento

  Para a existência de um grande prédio é preciso uma base sólida, um firme fundamento. Semelhantemente, o Novo Testamento não seria o que é sem a pessoa de Jesus Cristo; sua origem, tema e alvo orbitam em torno dEle. Nas páginas dos quatro Evangelhos, Jesus é apresentado não apenas como um ser humano comum, mas como o Verbo que se fez carne (Jo 1.14), o que já existia antes de todas as coisas, antes de Abraão (Jo 8.58), maior do que Moisés (Jo 5.46) e Sa[1]lomão (Mt 12.42), o Emanuel (Mt 1.23), o caminho a verdade e a vida (Jo 14.6), igual ao Pai (Jo 10.30), o único por meio do qual o homem pode ter a vida verdadeira (Jo 6.66).

   O tema da mensagem dos apóstolos, a doutrina que passaram a ensinar, tudo se firmava em Cristo Jesus, a Pedra Principal (Ef 2.21- 22; 1 Co 3.16; 1 Pe 2.5), pois dEle depende a nossa salvação. Paulo mesmo esclarece que não propunha falar outra coisa, se não de Jesus (1 Co 2.2). O destaque que se pode notar nas palavras de Cristo é: Eu Sou. Por diversas vezes disse: Eu sou a luz, a vida, a verdade, o pão do céu, perdoador, salvador; só quem realmente poderia ser o cria[1]dor da Igreja verdadeira seria Ele. Afirmamos que o cristianismo tem sua base bem alicerçada em Cristo Jesus. Assim, afirmamos que os Evangelhos só falam de Jesus Cristo, o Ser Perfeito. Como Ele mesmo disse: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5, ARA). Pela leitura do Novo Testamento, por intermédio dos quatro Evangelhos, logo a pessoa concluirá que a alusão que se faz ao seu protagonista principal, Jesus Cristo, é que Ele não é comum, seu nascimento foi diferente, seu viver foi diferente, seu ensino era com autoridade (Lc 4.32), jamais se igualando às frias normas farisaicas, ou aos farrapos do velho judaísmo contaminado de tradições próprias, que para ter o novo ensino de Jesus Cristo precisaria ser odre novo e veste nova, pois os odres velhos e podres dos judeus não suportariam os novos ensinos de Jesus (Mt 9.14-17), os quais só podem frutificar na vida de pessoas que se tornam novas criaturas (2 Co 5.17). [1]

   3. A importância do Novo Testamento na caminhada do cristão

  Pelo que anteriormente já foi exposto, prontamente o cristão já pôde concluir sobre a importância do Novo Testamento para a sua vida, pois Cristo é a base, o assunto geral desses 27 livros. Todas as histórias narradas nos Evangelhos, nas Epístolas, envolvendo Cristo, foram inspiradas e são plenamente verdadeiras.

   O Novo Testamento reveste-se de grande significado para o cristão pelo fato de ele ser o maior documento original da nossa fé, pois em suas páginas constam a mensagem de que precisamos para viver uma vida de fé e santidade. Esse maravilhoso documento divino não está no nível histórico de qualquer outra obra, sendo visto apenas como uma peça literária que se perdeu no tempo. O escritor aos Hebreus diz que a Palavra de Deus é viva e eficaz (Hb 4.12).

   De posse do conhecimento e da prática do Novo Testamento, o cristão poderá desenvolver uma vida de comunhão e salvação com Deus, por intermédio de Cristo, para ter a vida eterna (Jo 20.31; Lc 1.4; Jo 3.15,16; 5.24; At 3.6; 1 Co 4.10). Além do mais, poderá desenvolver a defesa de sua fé, posto que seu conteúdo é também apologético, pois cada página lida do Novo Testamento leva o cristão a viver a verdade de Cristo, a qual liberta (Jo 8.32), colocando-o em perfeita condição espiritual, prevenindo-o das heresias e doutrinas erradas, como as vãs filosofias e superstições. Mas, em essência, como já supracitado, o conhecimento do Novo Testamento e seus ensinos levam o crente a pender para um viver santo, conforme o proceder de Cristo Jesus. Os que querem conduzir-se na jornada cristã para o Céu precisam viver os ensinos neotestamentários. É por meio do ensino do Novo Testamento que o cristão passa a ter e a compreender os verdadeiros padrões do real cristianismo, desenvolvendo uma vida santa e de frutificação, pois segue o personagem principal de todo o seu conteúdo, Jesus Cristo (Hb 12.2). Para falar da relevância do Novo Testamento, além de todo o seu conteúdo interno, envolvendo as provas da inspiração, o cumprimento das profecias, o testemunho dos apóstolos, bem como de Pedro, João e Paulo, os quais asseguravam a importância da morte e ressurreição de Cristo Jesus (At 13.30), acrescenta-se a isso o testemunho da história, na qual o Senhor Jesus, conforme prometeu em Mateus 28.20, sempre esteve presente com a Igreja, desenvolvendo uma comunhão íntima com Ele e vencendo as vicissitudes, as forças opositoras (Mt 16.16-18).

   Um cristão que vive a sua vida de fé firmado no Novo Pacto, na Nova Aliança, procurando atentar para os ensinos de Cristo presentes no Novo Testamento, jamais se abrirá aos novos modismos, as novas doutrinas comprometedoras, visto que o conteúdo desse livro lhe concederá a verdadeira liberdade (Jo 8.36). Quando Jesus entrou no cenário humano, o mundo religioso da época se configurava dominado pelo animismo, culto aos imperadores, religiões místicas, práticas de ocultismo, mas, pela mensagem pregada, o evangelho, as Boas Novas, uma nova fé verdadeira brotava do coração daqueles que se arrependiam, pois como bem disse Paulo: o evangelho é poder de Deus (Rm 1.16).  

  Conclusão

  Compreendemos que a vida humana começou com Deus e precisa de Deus constantemente, porém, ao longo do caminho, o homem afastou-se do Senhor, tomando atalhos comprometedores, passando a ter uma natureza pecaminosa, corrupta, daí a necessidade do novo nascimento em Cristo Jesus. Ao começar a nova vida, ela tem que ser guiada e orientada pela Trindade divina — Pai, Filho e Espírito Santo — procurando ter como regra de fé e de prática a Bíblia Sagrada, em especial o Novo Testamento, que é a base da nossa nova aliança em Cristo Jesus.

  A carreira que nos está Proposta – O Caminho da Salvação, Santidade e Perseverança para chegar no Céu

  Osiel Gomes

 

2° TRIMESTRE DE 2024

A carreira que nos está Proposta – O Caminho da Salvação, Santidade e Perseverança para chegar no Céu

 COMENTARISTA: Osiel Gomes